Larissa Lins vive entre as cidades do Rio e de Fortaleza. Advogada e linguista por formação, hoje trabalha como escritora, pesquisadora e tradutora. Em 2022, publicou Ardósia pela Editora Urutau e também foi coautora de um filme em parceria com Karine Alexandrino e o Centro Cultural Porto Dragão. Tem poemas em antologias e outros textos em publicações diversas.
I. bwà: culpa e queda
de início é presa
mas se torna predador
iambula-uo
voraz mbùmba lowa
o tabu do sangue me amaldiçoa
fia ㅤㅤㅤㅤㅤmenga
e eu analfabeta
no idioma deste amor
profano o kikongo
e caio na armadilha
encruzilhada
iambula-uo
II. eu te conjuro
bruxa do menstruo
perséfone perversa
— ananke —
eu te conjuro
para que ele retorne
a este reino arruinado
e quando vier
ferozmente enfeitiçado
giremos na gira
sob a navalha da luz
para que ele retorne
negro cavalo alado
e me tome num rapto
atroz aqui anunciado
e desperte outra vez
corpo e sangue
— a carne —
para a ressurreição
III. aluarada
Vai-te, Selene, vai-te daqui
Orides Fontela
a lua mergulha em áries
diana sacia a fome
perturba minha alma e inflama
minha vontade
a lua minguante em câncer
artemis me abandona
confundo o teu nome e clamo
por piedade
irmã dos mil eões
filha do pecado
por que me atormentas tanto
que queres ao meu lado
qual o interesse
em me condenar
pelo sangue a vagar na lua
lilith vai-te pérfida e graciosa gira
que o trigo e o mel e minha doce sangria
hão de me resgatar no contrário deste dia
Arte: The Abduction of Proserpine, de Alessandro Allori.